O lado bom do fracasso, o poder positivo do fracasso, é que ele nos dá a oportunidade de nos reconstruirmos com sabedoria e riqueza. Somos capazes de aumentar nosso valor a partir dos nossos fracassos.
Quando superamos alguma dificuldade, quando nos levantamos depois de uma queda, nos pomos de pé e seguimos em frente, nos tornamos únicos porque nossos defeitos que provocaram nossa queda se tornam uma parte inseparável
da nossa história. Eles nos marcam, mas também nos ensinam uma forma melhor de viver.
Chamo esse processo de aprendizado e aperfeiçoamento de “A arte milenar de dar a volta por cima”, ou ainda, “A arte de se fortalecer a partir dos desafios e fazer o seu Turnaround”. É um aprendizado que nos torna melhor quando superamos nossos os desafios, nossos erros e nossos fracassos, e nos dispomos a dar a volta por cima, a recomeçar, a voltar a caminhar na direção dos nossos sonhos e metas.
Na época em que morei no Japão, conheci a arte milenar “Kintsugi”, usada para reparar peças de cerâmica quebradas. Em uma tradução livre, Kintsugi significa “Emenda de Ouro”. Essa técnica usa como “cola”, para juntar novamente as partes quebradas, uma mistura de laca e ouro em pó. As peças restauradas ganham uma beleza especial, destacando as rachaduras e os reparos, e seu valor se torna muito maior, não só pelo ouro, mas principalmente pela beleza e a originalidade que adquirem.
A cultura japonesa valoriza muito as marcas de desgaste que testemunham o uso de um objeto e sua serventia. O fato de ter-se quebrado e ter sido restaurado aparece como um evento bastante significativo na existência do objeto – os reparos destacam sua história e funcionam como um adicional ao seu valor.
Dentro dessa cultura, um vaso que nunca se quebrou é apenas mais um vaso, não importa o quanto ele tenha custado ao ser comprado. Mas o vaso que se torna especial é aquele que, depois de ter sido quebrado, ter sido submetido a condições extremas, tem suas partes unidas novamente com ouro. Isso torna essa restauração especial e eleva a importância do objeto, estabelece um diferencial e o torna único – nada mais se compara ao novo visual do vaso restaurado e nenhum outro vaso será jamais igual a ele.
Em paralelo com essa arte, existe toda uma filosofia de vida, aplicada ao modo de ser do povo japonês, que fala da aceitação do que foi forjado pela vida, que sobreviveu aos desafios e renasceu depois de uma provação mais intensa, que lhe deixou marcas. Uma filosofia que ajuda a lidar com a ideia das perdas e da melhoria através da provação e da determinação de dar a volta por cima,
renascer das cinzas, continuar em frente, apesar das cicatrizes que a vida deixou.
O Kintsugi traz também consigo a ideia da aceitação da mudança como uma realidade presente entre os aspectos da vida humana e da valorização da experiência e do trabalho realizado.
Uma filosofia de vida que destaca a beleza das cicatrizes adquiridas nas lutas do dia a dia, diante dos erros e adversidades e das derrotas, e a determinação de se recuperar e se colocar inteiro de novo. A consciência de que suas provações valorizam ainda mais a sua vida e as suas conquistas, porque só não tem cicatrizes quem não vai à luta – e que, nesse caso, vive uma vida vazia.
O ouro que restaura a essência do vaso quebrado é a representação do valor da experiência e do conhecimento adquiridos em nossa vida, nas nossas lutas, e que torna a nossa própria restauração muito especial. Nada mais se compara ao nosso novo “eu”, que renasce dos desafios enfrentados e que nos atribui um visual especial e diferenciado.
O Kintsugi representa aquela vontade que todos temos de sermos cada vez maiores e melhores, mesmo sabendo que teremos de pagar o preço, que teremos desafios, muitas vezes nos machucaremos, mas nos levantaremos e curaremos nossas feridas. E levaremos nossas cicatrizes como troféus de ouro, para lembrar sempre que toda boa luta em busca de nossos sonhos sempre vale a pena.
Essa filosofia nos ajuda a transformar fracasso em sucesso, em valor, a reiniciar uma nova vida depois de cada queda, aceitando nossos defeitos, nos transformando no que realmente somos.
Compreendemos que a perfeição não existe e por isso é preciso aceitar os defeitos nossos e dos outros. Porque todos temos nossa própria história. Os fracassos se transformam em sabedoria e aparecem como cicatrizes de aprendizado, o que nos torna únicos e especiais.