Luiz Fernando Garcia é conhecido como o psicoterapeuta de donos de negócio. Apaixonado por transformar e aperfeiçoar a mente e o comportamento de homens e mulheres de negócio ele é administrador de empresas, psicólogo e psicanalista com mais de 40 mil horas de atuação transformando a mente empreendedora. Iniciou sua atuação como instrutor em um programa de alcance mundial para o desenvolvimento de competências empreendedoras. Garcia também é palestrante, treinador e escritor best-seller de livros como “Pessoas de Resultado”; “O Cérebro de Alta Performance”; “Mente, Gestão e Resultados”; “O Inconsciente na sua Vida Profissional” e “Gente que Faz”.
Nesta entrevista para o Canal TurnAround, de Edgar Ueda, ele traça todos os segredos e competências de pessoas de resultados. Quer ter sucesso em sua vida pessoal e profissional? Não deixe de ler e assistir.
Edgar Ueda: Como as pessoas conseguem dar o seu TurnAround? Qual é o ponto de partida?
Luiz Fernando Garcia: A primeira coisa que se faz, eu entendo que é mais funcional é que o indivíduo organize três cenários. Que ele possa, mais do que pensar, escrever ou compor as coisas sempre na externalização, colocando pra fora, a mente e o cérebro pensa melhor. O que pode acontecer? Quais são os meus recursos disponíveis? Um dos tripés da resiliência é o modelo de desafio, um dos três fatores importantes para que o indivíduo supere emocionalmente uma situação traumática. Em estudos do cérebro após um momento difícil, uma das coisas importantes é que ele mapeie realmente as possibilidades que ele tem de retomada. Sempre uso o número três (porque o cérebro gosta) visões de cenários escritas. No modelo de desafio temos que considerar os recursos disponíveis e os que possam ser acessados. Construir um cenário sem direção a gente não se movimenta direito. Com esse modelo de visão passamos a ter um discernimento maior. Isso aqui pode acontecer, os recursos são esses, dessa forma eu posso acionar essas pessoas. Num médio cenário, o que pode acontecer um pouco menos favorável e um terceiro que é o pessimista. Isso prepara a direção do indivíduo. A outra coisa é recortar em submetas, sempre, em etapas: o primeiro mês ou o primeiro passo, segundo passo, terceiro passo. O primeiro mês, a primeira semana. Ficaria com a avaliação das possibilidades e construção de cenários. A segunda coisa, recorte metas de médio e curto prazo e acione sempre as metas de curto prazo, uma por vez. Tira o olhar do futuro, tire o olhar da frente, ele diminui a resiliência. Um cara chamo Fleck que estudou os cérebros resilientes. Ele diz que a meta final destrói a resiliência. No estudo sobre os Marines (Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos), no teste de resistência mental, eles focam: vou sobreviver até a hora do almoço, vou sobreviver até a hora da janta. Então essa fragmentação de curto prazo é a segunda parte da retomada. O indivíduo aumenta a resiliência pensando nas pequenas metas, não na saída do buraco.
Edgar Ueda: Um dos seus best-sellers, o “Pessoas de Resultado”, que é o que a maioria das pessoas buscam, resultado é um efeito que pode ser positivo ou negativo. Existe um caminho para que as pessoas consigam alcançar seus objetivos de uma forma mais rápida?
Luiz Fernando Garcia: Existe. Atalhos a gente sempre vai depender de fatores que são exógenos, de fora da gente, mas o que cabe a nós, tem um cara chamado Rotter que ele desenvolveu um teste chamado Locus de Controle Interno. O que depende de um indivíduo ele precisa esgotar ao máximo essas possibilidades que é “o que eu posso fazer para”. Dentro do locus interno, fiz uma pesquisa com 1200 empresários nos Arranjos Produtivos Locais (APLs). Nestes APLs a gente percebe os indivíduos que retomam de quebra mais rapidamente possuíam características muito comuns. Mapeei um perfil de 190 pessoas em que aparecem os sete traços que eu componho no livro e também foi utilizado no Ministério da Educação e Cultura, a matriz de orientação para resultado. Primeira coisa é o indivíduo ter a capacidade de visualização da saída do problema, como eu disse, a construção de cenários. A segunda coisa é ele ter um modelo de superação de desafios, não cumprir tarefas, precisa existir a possibilidade de ele fracassar em algumas coisas, senão ele não põe atenção necessária. Se não há possibilidade de fracasso, o indivíduo está cumprindo tarefa. Então ele precisa ousar um pouco mais para que se configure desafios. Se colocar em situações desafiantes. Não só com possibilidade de se fracassar, mas que exigisse um pouco mais da performance desse indivíduo. Então a atenção é maior. A terceira coisa é a capacidade de ele construir um mapa de percurso. Não é bem um planejamento, mas uma forma de colocar em tópicos prioritários com primeiras ações, ou primeiros alvos. Os americanos chamam isso de bottom time, que seria o botão que acionam as próximas comportas. Diferente do timeline, que é a cronologia. O que é prioritário ser feito hoje, isso é uma coisa que a criação de um mapa de percurso te dá, você escrever os pontos-chave que precisam acontecer. Sempre peço para que as pessoas usem verbo de ação no infinitivo, parâmetro de número “de, até”, não mais de 25%, pois o cérebro começa a ver com o córtex pré-frontal e ela passa por uma estratégia. É inerente, sem que ele faça força, ele irá avaliar como. Ele se comunica na medida que a gente faz isso. O terceiro aspecto dentro dessa técnica de orientação para resultado é o indivíduo colocar parâmetro de prazo, não data, não até. Coloca de tal data a tal data, que ele possa escrever em janelas estabelecidas no tempo, não em janelas grandes, sim em pequenas. Isso vai criando os mapas de percurso. A outra coisa importante é que esse indivíduo tenha uma capacidade de superar a expectâncias e o drive. São duas palavrinhas que é ele colocar pra ele expectativas e que ele se esforce em cumprir. Dizer às outras pessoas o que ele pensa e que ele se comprometa a cumprir. Drive é uma palavrinha em inglês que significa dirigir a própria motivação. Talvez ele precise ficar uma noite em claro, trabalhar mais, ficar sem final de semana. Então a expectância e o drive seria o quarto fator mais relevante das pessoas que se levantam, para uma capacidade de se orientar para um resultado maior. A quinta coisa importante que eu cito no livro é que o indivíduo possa se reforçar, pois se a gente só sofre e o cérebro entende que está valendo a pena por alguma coisa, então os bottom line, aqueles botões que você vai acessando, se presenteia, vai comer alguma coisa, cozinha, compra uma caneta, mesmo numa situação difícil. É importante que isso opere no cérebro falando: está vendo como a gente está andando? Isso é um dos truques dessas pessoas que se organizam. Outra coisa importante é que ele tolere ambivalência. Às vezes a gente tem dúvida se é melhor isso, ou se é melhor isso. Coloque o cenário e avalie alguns riscos. Tudo ele vai ter perda e vai ter ganho, mas que ele tolere isso. O rico de hoje não garante a riqueza de amanhã. O pobre de hoje não garante a pobreza de amanhã. O indivíduo em TurnAround está numa passagem, vai ser um cara melhor, está se depurando, é como se estivesse abrindo um novo portal. Foi um anjo que entrou na vida dele e não um demônio. O anjo entrou para dizer: olha eu estou te dando uma força para você saber que não era aquele o caminho, que a gente vai ter que ir pra esse caminho. Então o jeito de olhar isso temos que tolerar, que a ambivalência faz parte. Não sei se estou fazendo certo? Não sei se é isso? Mas continue andando. Acho que a grande frase pra nós de curto caminho seria o Keep Walking, continue andando, do uísque. Ou por exemplo aquele filme do Nemo (Procurando Nemo), que tinha aquela peixinha, a Dory, que repetia a todo tempo: “continue a nadar”. Esse é um dos truques que se anda pra frente. Essas condições podem encurtar muito a nossa capacidade de solução e a nossa capacidade de acerto de algumas ambivalências.
Edgar Ueda: Qual foi o seu grande TurnAround, mesmo achando que você teve vários?
Luiz Fernando Garcia: Acho que o primeiro mais difícil para mim foi na época da Copa do Mundo, de 82, que eu pedi as contas de uma multinacional, era executivo e trabalhava no Departamento de Pesquisas da Nestlé e tinha feito o lançamento do chocolate Smash. Tinha compilado o estudo e ajudado a dar o parecer de onde o Smash ia ficar. Naquele momento percebi que eu tinha que sair do mundo corporativo, tinha uma inquietude empreendedora, juntei um dinheiro e consegui mais alguém que me ajudasse. Fiz 16 camisetas da Copa do Mundo com o slogan “Papa Essa Brasil” e não patenteou o slogan no setor de confecção. Saí mais rapidamente, pedi a patente e construí uma camisa bárbara. Eu tinha vindo da Europa e trouxe um modelo de camisa num quadrante, comprei um moletinho que era um tecido da Santaconstancia, na época do Collor, top de linha, super legal, fiz as camisetas. A camiseta custava 14,50, de repente os mais ricos do país tinham 50 [não me lembro se eram cruzados], na conta. A camiseta ficou inviável. Estava com tudo aquilo na casa de um tio meu e no estoque tinham mais seis mil bermudas, oito mil bonés, tudo com o slogan “Papa Essa Brasil” e em determinado momento a Argentina faz o gol que ganhou do Brasil. O telefone não parou de tocar, eram meus amigos, a minha família dizendo “calma, vai dar tudo certo”. Me emociono nesse momento ao lembrar, momento que essas pessoas nos ajudam muito pelo menos na mensagem positiva. Foi um momento muito difícil, pois eu já não tinha mais as oportunidades do mercado. Fiquei distante por causa da empreitada quase seis meses. Fiquei sem nada, o que eu tinha era muita camiseta. Cheguei a por camisetas na Alemanha, até três meses atrás eu recebia de 100 a 200 dólares das camisetas que eu tinha mandado desde aquela época. Foi muito difícil pra mim. Na realidade eu deprimi um pouco, não abriu uma depressão, mas fiquei muito entristecido. Tinha que fazer alguma coisa com isso. As camisetas ainda eu tinha na mão e uma das coisas importantes foi eu dar um jeito de vazar elas, fazendo alguns contatos, mandando pra fora. Resolvi fazer uma loucura, imprimi: “Somos perdedores, mas ainda somos os melhores”. Imprimi em algumas camisetas, peguei 13 meninos de trânsito que vendem chocolate e fui pro trânsito vender. Foi muito difícil pra mim, pois experimentei o que vive o pessoal do telemarketing que às vezes fazem 30 mil ligações para conseguir uma venda. Dei um treino básico para os meninos e junto com eles começamos a vender. Como eles eram vendedores, iam abaixando o preço. Como eu não dei o máximo que podia descer. Fiquei ali e passavam carros como meu, pessoas nas mesmas condições que a minha e nem me olhavam. Muito abalado, com raiva, me lembro que tinha dias que dava vontade de bater no vidro e dizer “pelo menos abre esse vidro”. Era uma indignação, queria dizer “ajudem um pobre quebrado”. Foi muito difícil, me lembro depois dessa situação, demorei quase dois anos para me restabelecer.
Edgar Ueda: Qual seria a mensagem para uma pessoa que sente que não consegue sair do lugar?
Luiz Fernando Garcia: Vou dizer uma coisa que me ajudou muito. Tive um psicoterapeuta que nas épocas mais difíceis me deu suporte. Ele me contou uma metáfora. Um grande rei começou a pressentir um certo motim e percebeu que ele começava a ficar sozinho. Intuindo isso ele chamou os grandes capatazes, as grandes cabeças do reinado e pediu uma frase de ajuda. Seria uma frase que num momento de dificuldade ela poderia trazer a ele uma coisa importante e que coubesse num anel. Tinha que ser uma frase pequena. Essas cabeças pensantes pensaram e não conseguiram. Ele se lembrou de um grande amigo que tinha optado por não ficar mais no reino. Para ter uma vida mais simples, um pensador que saiu e foi ter uma vida como um plebeu para que pudesse experimentar outras coisas. Ele mandou ir atrás desse cara e quando ele chegou eles se abraçaram e se emocionaram. O rei disse: “você pode me ajudar, estou achando que alguma coisa vai me acontecer e queria que me ajudasse com uma mensagem otimista se por acaso eu tiver algum problema”. O amigo disse ao rei que teria condições de ajudá-lo mas primeiro o rei deveria prometer uma coisa a ele. “Você vai ler essa mensagem uma vez quando eu pedir”, disse o amigo. O rei não entendeu o pedido e disse que atenderia. O amigo levou o anel e logo devolveu ao rei. Colocou no dedo dele e disse: “Você vai ler essa mensagem somente quando você realmente estiver em apuros e que você só veja pela segunda vez se eu te pedir”. Seis meses depois houve de fato uma traição dentro do reinado. Os dois capatazes de maior confiança raptaram o rei e conseguiram escapar a cavalo. Durante a fuga o rei escapou e ficou sozinho. Ele foi para frente de um penhasco enquanto a cavalaria inimiga se aproximava para recapturá-lo. O rei retirou o anel e ao olhar do lado de dentro leu a inscrição: “Isso também vai passar”. Isso deu uma paz e criou naquele momento um insight. Ele jogou o cavalo, se pendurou na parede do penhasco e os inimigos acharam que ele tinha se matado. Foram todos embora, o rei escapou, reuniu sorrateiramente, inclusive o seu amigo e retomaram o reinado. Num momento de muito frenesi, o povo fazendo uma homenagem, ele voltou mais forte do que podia. Naquele momento ele perdeu de vista os momentos difíceis. Rapidamente ele foi agradecer ao amigo numa sala e em vias de receber mais homenagens do povo ele não deu muita atenção ao amigo. O rei agradeceu e disse que precisa ir receber a homenagem. O amigo interrompeu o rei e disse: “a gente tinha um acordo, que a segunda vez você leria quando eu te pedisse, leia agora o anel”. O rei tirou e leu mais uma vez: “Isso também vai passar”. Momentos bonitos, momentos de sucesso, momentos de dificuldades são todos etéreos no tempo. O importante é passar por esses momentos e lembrar do anel do rei. Em momentos de muita euforia, muita riqueza, muito sucesso tenha a humildade de também ler o anel. Essa metáfora me ajudou muito em momentos difíceis. Para você que também está passando por dificuldades escreve no seu anel, no seu papel: “Isso também vai passar”, é uma questão de tempo. Dia após dia. Keep Walking, etapa por etapa, vou sobreviver até a hora do almoço, vou sobreviver até a hora do jantar e continuem a nadar, como dizia a Dory.
Quer sempre ficar atualizado sobre o TurnAround de pessoas de sucesso e ainda receber conteúdo transformador? Inscreva-se agora no meu canal no YouTube (https://goo.gl/hK1tQA), ative o sininho e você sempre terá informações de como mudar a sua vida. Assista a entrevista completa aqui https://youtu.be/7ugFpR1jiFY e não esqueça de deixar o seu like.
Acompanhe as nossas redes sociais e saiba em primeira mão novidades sobre o pré-lançamento do meu livro dos 3 pilares do TurnAround, que acontece em 2018.